Me questionam sobre minha inconstância e sobre meus amores... me questionam das minhas mudanças, que ocorrem de uma semana para outra... me questionam sobre amar e amar perdidamente e não amar... pedi a Drummond que me ajudasse...
AMAR
(Carlos Drummond de Andrade)
Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer, 
amar e malamar, 
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho em rotação universal, senão 
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia, 
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha, 
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto, 
o que é entrega ou adoração expectante, 
e amar o inóspito, o áspero, 
um vaso sem flor, um chão de ferro, 
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta, 
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas, 
doação ilimitada a uma completa ingratidão, 
e na concha vazia do amor a procura medrosa, 
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa 
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.
xxxxxxxxxxxxxxxxxxx
Amar
(Florbela Espanca)
Eu quero amar, amar perdidamente! 
Amar só por amar: Aqui... além... 
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente... 
Amar! Amar! E não amar ninguém!
Recordar? Esquecer? Indiferente!... 
Prender ou desprender? É mal? É bem? 
Quem disser que se pode amar alguém 
Durante a vida inteira é porque mente!
Há uma Primavera em cada vida: 
É preciso cantá-la assim florida, 
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!
E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada 
Que seja a minha noite uma alvorada, 
Que me saiba perder... pra me encontrar...
domingo, 1 de fevereiro de 2004
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário