quinta-feira, 26 de outubro de 2006

Fragmentos

"Foi uma correspondência tão imediata e verdadeira que reconheceu de primeira o coração solitário que tentava conquistar. Era com o dele: de paixões verdadeiras, antigas e bem acabadas, mas ainda presentes, metamorfoseadas pelo uso da razão e culto ao passado. Não era tão surrado quanto o dele, mas se reconhecia de longe os gritos de um coração de "amores-para-sempre". Teve vontade de declarar-se copiosamente e sem amarras, mas a prudência o fez recuar e mudar de tática. Mas não fez nada diferente do que fez a vida inteira: conformou-se com o que recebia e esperou um recado dos céus ou dela própria, como sinal verde para um próximo passo. Era uma amiga única no mundo, talvez a sua última chance concedida pela providência antes de se entregar de uma vez à solidão dos românticos derrotados pelo mundo real"

Mais fragmentos

"resolveu reler suas poesias de antigamente para comparar os amores e se acostumar com as dores da batalha da vida. Eram tristes, meio pobres, e de verdade. Uma ou outra valiam a pena, mas a maioria não merecia terem sido escritas daquela forma. Eram quase seis anos de memórias poéticas escritas num caderno escolar azul. Na capa lia-se "poesias" em baixo relevo forçado por uma caneta sem tinta. Na primeira folha, a única coisa no caderno que não havia sido escrita por ele. Era uma carta de Rilke para o jovem poeta, em seu clássico livro que dizia: amar é bom porque amar é dificil. O amor de duas criaturas humanas talvez seja a tarefa mais dura que nos foi imposta, a maior e última prova para a qual as outras são apenas uma preparação. O amor mais humano consiste na mútua proteção, limitação e saudação de duas solidões"....

E outros fragmentos...

"o que tenho a perder? questionava. E ele mesmo respondia sem paciência: ela, burro! Era fato que não queria perder um laço tão forte por conta de um amor fora de hora, mas lembrou-se de que era a sua última chance, determinada por ele mesmo, porque já nçao tinha mais ânimo para regar novas paixões. Esta era diferente poque parecia já existir desde sempre, e estava apenas adormecida por todo o tempo. Não sabia o que fazer e tinha certeza de que a paciência era a sua maior e mais oportuna virtude"

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