domingo, 29 de junho de 2003

Numa galeria ou numa livraria. Sempre achei (nao sei baseado em que!) que em um desses lugares que se pode encontrar gente realmente interessante. Talvez pelo ar pseudo-intelectual que envolve esses lugares. Talvez pela tranquilidade, pelo recolhimento e pela solidao que me tomam quando estou num lugar destes... acho que por isso.



Curioso foi sentir minha inquietacao diante de uma pessoa interessante quando a encontrei numa sala de espelhos. Os mil eus que me vigiavam, me observavam com tanta atencao e com tanto ciume que nao tive o que fazer. Os infinitos olhos meus postos sobre mim, o julgamento e a condenacao pelo que nem tinha feito, me incomodava. Nenhuma das imagens refletidas aceitavam a imagem que eu tentava apresentar, a imagem do meu desejo de momento. Isso por que todos esses eus que me olhavam foram criados com a conviccao de que eu e eles sempre seriamos companheiros, e fomos educados com os mesmos valores.



Nao adianta nada, para todos nos, superficialidades... a carne, pura, nunca foi prioridade. Por isso aqueles espelhos, por unanimidade, me condenaram a fingir que nao percebia os sinais, as oportunidades...



Ate hoje nao sei se estavam certos ou errados aqueles espelhos, e nunca vou saber... so sei que todas as vezes que encontro com um deles, em qualquer lugar no mundo, sinto um clima de traicao no ar... como se todos eles dissessem: "nao force, voce nao eh assim!"



sábado, 28 de junho de 2003

Foi como na primeira vez. Esta sendo como na primeira vez. Entre dizer o que penso e o que penso em dizer, fico doido. Ah! Quem se importa? Sempre me disseram que minhas palavras s?o mais mortais do que minhas facadas... me culpo muito por medir palavras, por filtra-las...



Lembro-me de um poema de Joao Cabral de Melo Neto (acho que era dele), em que ele dizia que escrever era como catar feijao... e talvez seja mesmo, muito mais do que procurar pela ponta da fita adesiva (do post de uns meses atras)... fico aqui catando feijao para nao fazer os outros engolirem pedra.



CATAR FEIJAO

Joao Cabral de Melo Neto



Catar feijao se limita com escrever:

jogam-se os graos na agua do alguidar

e as palavras na da folha de papel;

e depois, joga-se fora o que boiar.

Certo, toda palavra boiara no papel,

agua congelada, por chumbo seu verbo:

pois para catar esse feijão, soprar nele,

e jogar fora o leve e oco, palha e eco.



Ora, nesse catar feijao entra um risco:

o de que entre os graos pesados entre

um grao qualquer, pedra ou indigesto,

um grao imastigavel, de quebra dente.

Certo nao, quando ao catar palavras:

a pedra da à frase seu grao mais vivo:

obstrui a leitura fluviante, flutual,

acula a atencao, isca-a com risco.

quarta-feira, 25 de junho de 2003

Escreve-me

(Florbela Espanca)



Escreve-me! ainda que seja só

Uma palavra, uma alavra apenas,

Suave como o teu nome e casta

Como um perfume casto d´açucenas!



Escreve-me! Há tanto, há tanto tempo

Que não te vejo, amor! Meu coração

Morreu, já e no mundo aos pobres mortos

Ninguém nega uma frase d´oração



"Amo-te" cinco letras pequeninas,

Folhas leves e ternas de botinhas

Um poema d´amor e felicidade!



Não queres mandar-me esta palavra apenas?

Olha, manda então... brandas... serenas...

Cinco pétalas roxas de saudade...

domingo, 22 de junho de 2003

Esta noite nao tem sido diferente das tantas outras noites dessa minha existencia. Nao posso me queixar da vida, nao mesmo. Apesar de, de vez em quando, me deparar com gente muito ruim, gente pilantra, tenho o prazer de conhecer uma monte de gente legal. Tenho o prazer de dizer que tenho, pelo menos, 10 amigos daqueles que, numa briga, ja entram com a voadora, sabe? Tenho o prazer de dizer que li tres livros perfeitos e eles mudaram minha vida... os outros todos sao ate legais, mas nao precisava, os tres bastavam... tenho o prazer de dizer que tenho um emprego, que tenho dinheiro, que tenho tempo, que tenho quem me queira bem e tenho a quem querer bem...



mas eu nao sei porque uma expressao nao sai do meu rosto, nao sei mesmo... vai ver que, depois de tanto tempo, ela se cristalizou por aqui e tira-la, so quando meu filho nascer...







diga-se de passagem, os tres livros: O Amor nos tempos do Colera, Cem Anos de Solidao, Cartas a um jovem poeta

quarta-feira, 18 de junho de 2003

Finalmente tomei vergonha na cara...

Vou passar o Sao Joao em casa, ou melhor, trabalhando à noite...

Sinto que essa é a hora, ou melhor, esse é o tempo de procurar alguem, procurar por uma pessoa...

Dizem que muitas vezes a gente nao precisa procurar, algumas vezes por que quem procuramos esta muito proximo, outras vezes porque o verdadeiro amor encontra a gente... nao sei bem se é isso mesmo... talvez a menina dos meus olhos esteja escondida, talvez eu ainda nao a tenha conhecido, mas acho que preciso mesmo é procurar...





fiz essa foto na estrada, perto de Nagé, no Reconcavo, a menina escondida no cesto... bem sugestivo!

domingo, 15 de junho de 2003

Um belo dia de sol... às 7 da manha eu estava no HAM, esperandominha mae sair da radio... no estacionamento, a grama refletia um verde magico... nas flores ao lado, um beija-flor multi-colorido fazia a festa e dançava, e parava no ar... na hora me lamentei: "Droga, onde esta a minha maquina fotografica?" Desse pensamento, saguiu-se uma reflexao de horas... porque essa necessidade da maquina fotografica? Porque tanta agonia? Eu queria mostrar a todo mundo aquela imagem, aquela situaçao t?o delicada... mas porque com uma fotografia? porque nao um texto? porque nao uma musica? Ai me lembrei que antes de ser fotografo, eu fui escritor... nao dos melhores, mas o suficiente para me fazer entender... a fotografia é muito mais pratica, muito menos trabalhosa... para mim, ao menos...



Tentei, por muito tempo, criar aquela imagem com letras, verbos, adjetivos... mas nao consegui nada além do que essa coisa do inicio desse post... minha preguiça, minha falta de tempo, minha falta de criatividade é que causam isso, eu sei... mas me preocupa essa atrofia literaria... as fotos sao bonitas, tenho melhorado bastante... mas meus poemas, meus contos, ultimamente sao piores do que quando comecei de verdade, ha cinco anos...



sera que desaprendi?

quarta-feira, 11 de junho de 2003

Outro dia percebi que tem gente da UFRN passeando por aqui, lendo minhas mensagens... sinto saudades daquele tempo... faz 4 anos (mais que isso!) que sai de Natal e vim pra Salvador. Não posso deixar de pensar que pode ser um dos meus amigos... amigos que fiz e que, mesmo sem ter contato, n?o deixo de saudar... ah! esses trabalhos na faculdade me impedem de escrever alguma coisa que preste... tenho que organizar minha vida e arrumar tempo para criar algo que seja, pelo menos, bonitinho...

see u!

domingo, 8 de junho de 2003

Quando encontro alguem que me balance eu fico desse jeito... pensando num monte de coisas... envolto em digressões e digressões. Algumas me assustam, outras viagens são normais, clichês mesmo. Queria escrever sobre "julgar"... queria escrever sobre "realidade"... queria escrever sobre "encantamento"... mas tudo isso está meio embolado na minha cabeça, desacostumada com novidades, com surpresas...



Ontem percebi que eu mudei, definitivamente eu mudei... uma coisa eu sei que conquistei: Coragem. E essa valentia toda é que me deixa, no final das contas, doidinho como tô agora...



É o preço... o preço que se paga por arriscar um pouco mais....

sábado, 7 de junho de 2003

Peço desculpas pela falta de criatividade... mas o tempo me falta... aproveito o dia dos namorados para colocar um texto de Drummond... daqueles bem básicos.



Ter ou não ter namorado

Drummond



Quem não tem namorado é alguém que tirou férias remuneradas de si mesmo. Namorado é a mais difícil das conquistas. Difícil porque namorado de verdade é muito raro. Necessita de adivinhação, de pele, saliva, lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia. Paquera, gabira, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão é fácil. Mas namorado mesmo é muito difícil. Namorado não precisa ser o mais bonito, mas ser aquele a quem se quer proteger e quando se chega ao lado dele a gente treme, sua frio, e quase desmaia pedindo proteção. A proteção dele não precisa ser parruda ou bandoleira: basta um olhar de compreensão ou mesmo de aflição.



Quem não tem namorado não é quem não tem amor: é quem não sabe o gosto de namorar. Se você tem três pretendentes, dois paqueras, um envolvimento, dois amantes e um esposo; mesmo assim pode não ter nenhum namorado. Não tem namorado quem não sabe o gosto da chuva, cinema, sessão das duas, medo do pai, sanduíche da padaria ou drible no trabalho.



Não tem namorado quem transa sem carinho, quem se acaricia sem vontade de virar lagartixa e quem ama sem alegria.



Não tem namorado quem faz pactos de amor apenas com a infelicidade. Namorar é fazer pactos com a felicidade, ainda que rápida, escondida, fugidia ou impossível de curar.



Não tem namorado quem não sabe dar o valor de mãos dadas, de carinho escondido na hora que passa o filme, da flor catada no muro e entregue de repente, de poesia de Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes ou Chico Buarque, lida bem devagar, de gargalhada quando fala junto ou descobre a meia rasgada, de ânsia enorme de viajar junto para a Escócia, ou mesmo de metrô, bonde, nuvem, cavalo, tapete mágico ou foguete interplanetário.



Não tem namorado quem não gosta de dormir, fazer sesta abraçado, fazer compra junto. Não tem namorado quem não gosta de falar do próprio amor nem de ficar horas e horas olhando o mistério do outro dentro dos olhos dele; abobalhados de alegria pela lucidez do amor.



Não tem namorado quem não redescobre a criança e a do amado e vai com ela a parques, fliperamas, beira d’água, show do Milton Nascimento, bosques enluarados, ruas de sonhos ou musical da Metro.



Não tem namorado quem não tem música secreta com ele, quem não dedica livros, quem não recorta artigos, quem não se chateia com o fato de seu bem ser paquerado. Não tem namorado quem ama sem gostar; quem gosta sem curtir; quem curte sem aprofundar. Não tem namorado quem nunca sentiu o gosto de ser lembrado de repente no fim de semana, na madrugada ou meio-dia do dia de sol em plena praia cheia de rivais.



Não tem namorado quem ama sem se dedicar, quem namora sem brincar, quem vive cheio de obrigações; quem faz sexo sem esperar o outro ir junto com ele. Não tem namorado que confunde solidão com ficar sozinho e em paz. Não tem namorado quem não fala sozinho, não ri de si mesmo e quem tem medo de ser afetivo.



Se você não tem namorado porque não descobriu que o amor é alegre e você vive pesando 200Kg de grilos e de medos. Ponha a saia mais leve, aquela de chita, e passeie de mãos dadas com o ar. Enfeite-se com margaridas e ternuras e escove a alma com leves fricções de esperança. De alma escovada e coração estouvado, saia do quintal de si mesma e descubra o próprio jardim. Acorde com gosto de caqui e sorria lírios para quem passe debaixo de sua janela. Ponha intenção de quermesse em seus olhos e beba licor de contos de fada. Ande como se o chão estivesse repleto de sons de flauta e do céu descesse uma névoa de borboletas, cada qual trazendo uma pérola falante a dizer frases sutis e palavras de galanteio.



Se você não tem namorado é porque não enlouqueceu aquele pouquinho necessário para fazer a vida parar e, de repente, parecer que faz sentido.

terça-feira, 3 de junho de 2003

Trabalho, trabalho, muito trabalho...



O rítmo acelerado, a seriedade, a novidade... trabalho novo é sempre muito igual, em qualquer lugar. É certo que aqui as coisas são um pouco diferentes, principalmente pelo ar que envolve, uma aura diferente, sei lá.



O fato é que falta tempo pra fazer o que eu fazia sempre... mas esse tempo tão ocupado passa muito rápido. Dizem que isso acontece quando fazemos aquilo que gostamos... e acho que está ai uma verdade!!! "Produzir" é a palavra da vez... se sentir produtivo é bom, gera satisfação e felicidade... viva a produção! ehehe... prometo uma bela mensagem engarrafada ainda essa semana...



fico por aqui....