sábado, 28 de junho de 2003

Foi como na primeira vez. Esta sendo como na primeira vez. Entre dizer o que penso e o que penso em dizer, fico doido. Ah! Quem se importa? Sempre me disseram que minhas palavras s?o mais mortais do que minhas facadas... me culpo muito por medir palavras, por filtra-las...



Lembro-me de um poema de Joao Cabral de Melo Neto (acho que era dele), em que ele dizia que escrever era como catar feijao... e talvez seja mesmo, muito mais do que procurar pela ponta da fita adesiva (do post de uns meses atras)... fico aqui catando feijao para nao fazer os outros engolirem pedra.



CATAR FEIJAO

Joao Cabral de Melo Neto



Catar feijao se limita com escrever:

jogam-se os graos na agua do alguidar

e as palavras na da folha de papel;

e depois, joga-se fora o que boiar.

Certo, toda palavra boiara no papel,

agua congelada, por chumbo seu verbo:

pois para catar esse feijão, soprar nele,

e jogar fora o leve e oco, palha e eco.



Ora, nesse catar feijao entra um risco:

o de que entre os graos pesados entre

um grao qualquer, pedra ou indigesto,

um grao imastigavel, de quebra dente.

Certo nao, quando ao catar palavras:

a pedra da à frase seu grao mais vivo:

obstrui a leitura fluviante, flutual,

acula a atencao, isca-a com risco.

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