terça-feira, 26 de fevereiro de 2002

Escrevi esse conto numa sentada só... e sem querer... estva escrevendo uma poesia na minha maquina de escrever e comecei a digitar isso ai.. achei interessante... espero que todos assim o achem!



...



Por bom comportamento, me deixaram sair um pouco da minha cela pra escrever minhas ultimas palavras. Por isso, tentarei ser o mais breve possível nesse depoimento.

Fui condenado por ter agido mal com certa pessoa, e fui trancado nessa prisão. Fui julgado rapidamente, mas fiquei foragido por uns tempos, até que eles conseguiram me pegar... Quando me pegaram, deixaram que eu fizesse alguns pedidos (por ser réu primário)... e fiz três: pedi um caderno, um lápis e algumas velas... era só isso que eu achava que precisaria para passar o resto da minha vida sozinho.

Nos primeiros meses, tudo foi muito tranquilo... eles me deram velas grandes, que iluminavam bastante... e fui escrevendo sobre as lembranças, sobre os sonhos e sobre a solidão daquela prisão. Fui escrevendo e sempre que tinha oportunidade, recitava as poesias para quem estava na vigilância... geralmente mulheres...

Algum tempo se passou, nem sei precisar o quanto, porque o tempo aqui passa muito devagar... eu comecei a me sentir mal... e me sentia assim por não conseguir mais imaginar o que eu queria... estava ficando sem idéias, e eu sozinho, num lugar como esse, sem idéias, sem inspiração... morreria no dia seguinte!

Dessa forma, resolvi chamar alguém que estava na guarda da minha cela. Era uma mulher. Expliquei o que estava acontecendo... disse que tinha tudo o que precisava, ou melhor, quase tudo... faltava-me inspiração! Ela achou meio estranho e bonitinho... resolveu me ajudar, mas não disse quando nem quanto tempo... AH! Mas esperar não seria problema... as idéias já estavam voltando...

Escrevi muito naquela noite sobre a expectativa de tê-la em minha cela e sobre a agonia de esperar o memento chegar... e chegou! Certa madrugada ela entrou na minha cela...

Chegou e foi se sentando... nem disse seu nome, não quis saber maiores detalhes...

Meus olhos e meu corpo registravam tanta informação e minha cabeça ia longe... enquanto ela falava, eu criava um mundo de poesias... estava nascendo outra vez... como poeta, como gente... finalmente alguém chegou e ia me ouvir...

O tempo passou e minha cabeça já ia se acostumando e a emoção ia dando espaço pra meu lado lógico... articulei todo um processo de fuga, incluindo no plano a ajuda da tal guardiã que nem sabia o nome direito...

Durante a conversa falei sobre varias coisas que aconteceram na minha vida, antes e depois de estar trancado, sozinho... e disse que se não fosse pelo caderno, o lápis e as velas, eu já teria desistido de viver... Ela até se mostrou interessada nas minhas historias... comoveu-se até...

Enquanto amanhecia, ela disse que precisava ir... perguntou como eu ficaria depois da conversa, e eu tomado por minha inspiração, disse que esperaria o tempo que fosse necessário para vê-la outra vez... e para isso, escreveria sobre cada segundo que passei ao lado dela... porque a imagem dela já tomava meu pensamento... e o caderno comportaria quantas poesias eu pudesse escrever e que a luz estaria acesa pra que eu pudesse enxergar...

Ouvindo isso, ela olhou pro nada... pensou uns segundos e acho que vi no rosto dela um sorriso sarcástico... levantou-se e caminhando em direção à porta, tocou a chama da vela, apagou, e saiu tranquilamente...

Fiquei um tempo calado... no escuro... meio perplexo... Estava muito nervoso porque tinha as idéias, tinha meu caderno, meu lápis... mas me faltava a luz pra escrever... eu não via nada! Comecei a gritar e a chorar, mas ninguém me ouvia também... numa hora de revista de cela, pedi (na verdade implorei!) pra que me deixassem sair um só momento pra escrever essa carta, dizendo que era pra minha mãe...

No caminho dessa sala, a vi de perto... ela ficou sentida, mas continuou seu caminho... entrei na sala e comecei a escrever...

...

Sei que não terei mais nenhuma luz na minha cela e que por isso ficarei sem poder escrever ou recitar... a minha cabeça tem muita coisa guardada da ultima madrugada, mas não tenho como dizer... acho que ficarei louco ou fugirei daqui... e sei que as pessoas que tentaram fugir daqui morreram ou se mataram, e talvez seja isso que eu queira mesmo... me matar... ou ser morto!

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