quarta-feira, 11 de janeiro de 2006

Fazendo amigos em São Paulo

Dizem que o povo de São Paulo é frio, distante. Quando comparados aos baianos e pernambucanos fica parecendo que o povo daqui sofre com algum tipo de deficiência mental. Não é bem assim. O povo de São Paulo, inclusive, tem um potencial enorme para fazer amigos.

Cheguei aqui ontem à tarde, em Guarulhos, e peguei um onibus para Congonhas, onde alguns amigos iriam me recepcionar. Sentei na janela pra ficar olhando tudo o que eu pudesse, tentando já decorar alguns nomes de ruas, avenidas e bairros, marcando pontos estratégicos, no caso de eu me perder. No meio do caminho, um engarrafamento. Ah! Grande novidade um engarrafamento em São Paulo. Fiz a bobagem de não tirar fotos dessa experiência tão característica da maior cidade da América Latina.

Pois foi neste engarrafamento que comecei a pensar nessa minha tese de que os paulistas têm tudo para serem as pessoas mais bem relacionadas do planeta. No tal engarrafamento, ao lado do onibus, havia um caminhão de cerveja e seu motorista gordão. Logo na primeira parada, olhei para ele. Barba feita, cigarro na boca, sem sinto de segurança e uniforme branquinho. O tempo passou, fiquei olhando para outras coisas, alguns prédios, algumas pessoas na rua e, quando olhei de volta, o motorista continuava lá. Desta vez, ele também olhou para mim, mas desviou rapidamente.

Depois de 20 minutos, andamos um pouquinho, mas só um pouquinho mesmo, e então paramos. Ao meu lado, novamente, o tal motorista com seu caminhão de cerveja. Parecia compreensivo, apesar do calor de 30 graus que fazia. Eu estava no ar-condicionado, no bem bom, mas ele, coitado, pingava de suor. Nos olhamos de novo e ele sinalizou com a cabeça, completando com uma risada sem graça, que soou como "putz, tá difícil".

Segui no meu primeiro programa em São Paulo no anda-para-anda-para-buzina-anda-buzina-para-xinga a mãe do guarda. Quando chegamos a 40 minutos de engarrafamento, olhei pro lado e comecei a pensar se eu estava louco ou a barba do rapaz do caminhão ao lado tinha realmente crescido. Não consegui segurar o riso sem graça e ele retribuiu passando a mão na testa e jogando o suor na rua, e depois me mostrando a mão molhada.

Eu estava com o Diário Lance na mão, lendo, ou tentando ler a entrevista com Carlos Alberto, do Corinthians. Percebi que o motorista do caminhão olhava em minha direção fixamente. Quando olhei para ele, vi que estavamos dividindo a leitura do jornal. Resolvi brincar e segurei firme a página do jornal na janela do onibus, com as manchetes do dia. Demos risada e depois voltei para a leitura.

Pouco menos de uma hora depois, o engarrafamento foi se diluindo e segui viagem. O motorista do caminhão foi ficando para trás. Dei um tchau meio sem graça e ele buzinou sorrindo.

Quando cheguei em Congonhas, contei para o pessoal a minha história de como é fácil fazer amigos em São Paulo. Por aqui, passamos tanto tempo parados, uns do lado dos outros, que dá pra criar laços verdadeiros, e com gente de todo tipo.

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