quarta-feira, 12 de maio de 2004

Pouco tempo, to quase desistindo desse trem de novo...

enquanto não escrevo nada bonitinho, vou colocando as coisas que tenho feito na faculdade. Esse ai abaixo é uma crônica que fiz numa das intermináveis aulas de Mídia Impressa... é vai!!! Lembrei de minha amiga Maria Dolores, que sumiu... deve ter voltado para o RN e deixado a patroinha sozinha :P



Pau-de-Arara que voa(va)

Por Fábio Caraciolo



Por pelo menos um dia na vida, os tantos Josés e Marias da Silva, que moram na periferia do Rio de Janeiro ou São Paulo, tiveram a oportunidade de voltar para o Nordeste como sonhavam: voando. Muitos saíram de seu interior quente, sem chuva, sem comida, pegaram um pau-de-arara – um caminhão que leva e traz retirantes em sua caçamba – e partiram em direção à Sumpaulo com a promessa de ganhar um dinheiro e voltar logo.



“Volto voando, como a Asa Branca”, era o grito que ficava no ar seco do sertão e que até hoje ecoa no coração das famílias que ficaram. O problema todo era – e ainda é – que voltar não é muito fácil. O dinheiro pouco, a falta de trabalho e a passagem cara demais impedia qualquer tentativa de pagar a promessa. Os poucos que conseguiram um emprego, ou até fazer bico, não tinham condições de pagar mais de R$ 100 pela condução do regresso. Pelo contrário, quem conseguiu emprego teve que se ajeitar por lá mesmo e tratar de esquecer o sertão.



Mas um dia tudo quase mudou. Alguém chegou gritando na invasão que tinha passagem de avião por R$ 50. “Passagem direto pro Recife por cinqüenta reais! E pra ir Sirinhaem é só pegar a kombis por R$ 1,50”. E ai foi gente arrumando trouxa, pegando filho na rua, dando banho de lavanda e correndo pro aeroporto, ali pertinho. Toda a economia da casa foi para comprar as três passagens no primeiro vôo disponível. A fila estava grande, mas nada diferente do que a rodoviária em véspera de São João. Esperaram com medo de voar, mas com um sorriso de vontade de matar saudade. Antes de chegarem no guichê, começou uma confusão. Gritaria, choro, a família ficou junta, se abraçando, esperando a poeira abaixar. Ouviram então alguém gritando: “Como suspensa? Quem suspendeu?”.



O Departamento de Aviação Civil (DAC) suspendeu a venda de passagens aéreas mais baratas do que as de ônibus. O motivo alegado não tem nada a ver com a concorrência. Segundo o DAC, a companhia teria que avisar sobre a promoção cinco dias antes de colocá-la em prática.



Sem poder voltar voando para a terra natal, voltaram andando para a casa de tijolo na invasão, pensando que tudo foi um sonho ou então que alguém cobra muito mais caro do que deveria por passagens de avião e de ônibus.

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